The Farmer Was Replaced — a fazenda é sua… até os robôs entenderem melhor que você

The Farmer Was Replaced
Ano: 2025
Gênero: Jogos de Programação
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
The Farmer Was Replaced

Comecei achando que ia plantar e colher no clique. Cinco minutos depois eu estava escrevendo regrinhas pra robozinhos: se chover, recolhe; se o tanque encher, para; se a cerca quebrar, chama manutenção. A virada é essa: você deixa de ser fazendeiro e vira gerente de sistema. A mão desaprende o trator e aprende a pensar em exceção. E, cara, é gostoso quando a linha fecha. Ver o drone irrigando no timing, o coletor passando na fileira certa, a esteira levando a caixa pro depósito… dá aquele clique de “eu criei um cérebro” usando meia dúzia de condições.

Só que a fazenda é viva, e sistema sem aresta é lenda. Uma vaca escapa e seu script não considera portão aberto; uma chuva fora de hora bagunça sua janela de colheita; um sensor com leitura torta te deixa com meia plantação alagada. Aí entra o jogo de verdade: não é “consertar o erro”, é aprender a falar com o imprevisto. Eu comecei escrevendo regras “bonitinhas”; terminei aceitando regra feia que salva dia ruim. E sim, aprendi do jeito errado que “pequenas emergências” em paralelo viram caos exponencial. Quando tudo resolve ao mesmo tempo, é seu cérebro que trava, não o CPU.

A parte que mais curti foi a rotina virando narrativa. Cada dia tem e-mail corporativo “amigável” cobrando KPI, meta de produtividade que não considera clima, e um bônus que te tenta a empurrar mais automação. No meio disso, a fazenda sussurra humanidade: barulho de chuva batendo no telhado, sombra de passarinho no chão, uma cerca que você sabe que vai dar problema porque já viu aquilo. O jogo quase não fala — ele te coloca em situações que fazem perguntas do tipo “até onde vale tirar o humano da equação?”. Eu ri quando consegui eliminar um trabalho manual chato; me senti meio lixo quando percebi que tinha “otimizado” alguém (inclusive eu) pra fora do processo.

Os puzzles são menos “quebra-cabeça com gabarito” e mais “engenharia de rotina”. Tem fase que foca em irrigação por zona, outra em logística de caixas, outra em pasto que gira por rodízio. As melhores foram as que pedem sistema modular: script A cuida da água, B cuida de cerca, C decide prioridade. Se um falhar, os outros não derretem. Parece papo de TI, mas no jogo vira corrente estética: ver três subsistemas conversando sem se atropelar é música.

Falando em música: o clima é de farm cozy com fundo distópico. Trilha que parece playlist de tarde nublada, UI limpa, fontes legíveis, aquelas animações pequenininhas que dão vida aos robôs sem humanizá-los demais. No PC, tudo rodou liso. É jogo de mouse e teclado, precisão boa pra arrastar bloco, duplicar regra, ativar/desativar módulo. Travei a 60 e baixei um tico do brilho pra ler melhor os indicadores; ficou perfeito pra maratonar madrugada.

Tem atrito, e é bom falar. Às vezes o jogo exige granularidade de regra que a interface não deixa construir com a elegância que você quer; dá pra fazer, mas você escreve três blocos onde um resolveria. Em outras, a leitura de prioridade entre dois eventos simultâneos não fica clara de primeira — você apela pra gambiarra até entender a ordem interna. Também tem picos de dificuldade que vêm mais do design do objetivo (meta apertada, clima safado) do que da sua solução. Respira: o caminho é iterar, não apagar.

Teve uma hora específica que me marcou. Eu tinha criado um sistema lindo pra colher, empacotar e despachar. Funcionou como um relógio por três dias no jogo. No quarto, caiu uma tempestade no meio do turno; minha regra de segurança desligou metade da malha pra evitar curto, e os robôs obedeceram direitinho. Eu saí consertando à mão, e no fim do expediente o relatório me parabenizou pela “redução de custos humanos”. Fiquei rindo sozinho de nervoso. The Farmer Was Replaced não fica apontando o dedo o tempo todo — essa cena diz tudo.

No final da campanha, meu save parecia foto de time arrumado: blocos renomeados, prioridades explicadas, módulos comentados, aquela sensação boa de “eu entendo meu próprio Frankenstein”. E a cabeça já pensando: dá pra generalizar isso? Dá pra transformar o meu script de irrigação num pacote que resolve qualquer talhão? Essa vontade de melhorar o sistema mesmo depois de “fechar” é o sinal de que o loop funcionou.

Vale a pena? Se você curte jogos de automação, programação light ou aquele prazer de ver um fluxograma virar vida, é sim. Se você só quer “fazendinha de relax total”, talvez estranhe a cobrança de meta e o humor meio ácido com a ideia de produtividade. Eu entrei pelo meme do título, fiquei pela sensação de montar uma fábrica discreta no meio de um campo bonito — e pela pulga atrás da orelha que o jogo deixa: quando a gente se programa demais, sobra o quê pra sentir?

No balanço, The Farmer Was Replaced me pegou com método e devolveu com tema. É gostoso, esperto e cutuca sem textão. Saí com orgulho do meu sistema e um incômodo legítimo com o que ele significa. E já tenho duas ideias de como quebrá-lo de propósito na próxima run, só pra lembrar que ainda tem um humano aqui.

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Por Leo "Blade"

Sou o Leo, geralmente jogo com o nick blade95. Sou apaixonado por jogos de FPS e amo montar PC Gamer! Aqui no Steamaníacos cuido de tudo sobre Hardware, review, preview, testes e novidades para o nosso mundo gamer!