60 Minutes to Extinction — Sessenta minutos que comem suas mãos e depois o seu fôlego
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A primeira partida acabou aos 42 minutos, numa sirene que eu mesmo provoquei tentando “só checar rapidinho” um fusível. É esse o jogo: você pisa num bunker que range como navio velho, um contador crava 60:00, e tudo — tudo — vira decisão com custo. No começo, o cérebro entra no modo “escape room clássico”: varrer cômodo, cruzar pistas, rabiscar códigos. Cinco minutos depois, aprendi a respeitar prioridades: vedar vazamento de gás antes de brincar de decifrar painel bonito, desligar um circuito para poder mexer no outro, marcar no papel o que depende de eletricidade para não se sabotar. O tempo não é enfeite; é a chave de todas as portas.
O design te ensina com carinho cruel. Uma alavanca pede três passos prévios que o mapa sussurra, não grita. Um painel pisca no ritmo errado só para avisar que a tensão do circuito está fora — dá para “forçar”? Dá, e você vai pagar com um blackout de dois minutos que queima seu planejamento. O jogo não é “troll”; é consequente. Quando uma sequência esfria porque você priorizou mal, a culpa é sua… e a autópsia também. A sensação boa nasce daí: repetir com método e sentir as peças encaixando um toque mais rápido, um fluxo mais limpo, um risco a menos.
O som é meio jogo. Com fone, você aprende a ouvir a base respirando: ar forçado falhando, líquido batendo no metal, um quadro elétrico chiando como chaleira — cada ruído vira checklist. Foi num corredor silencioso que entendi que o duto acima de mim estava ativo e que a sala “segura” era, na verdade, a culpada pela pressão errada do sistema. O mapa não é labirinto ornamental; é máquina viva, e você passa a caminhar como técnico: olho em válvula, orelha em ventilação, mão no cronômetro.
Não há save manual. Nem “só mais cinco minutinhos”. Falhou, acabou — volta do zero com o que aprendeu. Curiosamente, isso não empobrece; enriquece. A segunda tentativa já começou com checklist enxuto, rota clara e um respeito saudável ao que mata tempo. Eu me peguei desenhando a planta no caderno, inventando um código próprio para passos dependentes de energia e anotando “NÃO TOCAR ANTES DE X” ao lado de uma estação bonita demais para ser inocente. Quando a run finalmente fechou, não foi por “eureka” cinematográfico; foi por somatória de boas escolhas sob pressão.
Tecnicamente, no PC, a experiência foi lisa quando parei de embelezar. Travei a 60, baixei bloom e pós-processamento, deixei o contraste mandar — nítido o suficiente para ler LED de status sem brigar com flare. Com mouse e teclado, girar válvula fina e digitar códigos sob mão tremendo ficou confortável; no controle, navegar e observar é mais relax, mas na hora do aperto o ponteiro venceu. O preço também joga a favor da “repetição consciente”: sessão curta, impacto alto, vontade de tentar outra rota antes de dormir.
Tem tropeço? Pouco — e quase sempre meu. Em duas runs, subestimei interdependências de sistema e criei gargalos impossíveis de corrigir com o relógio cruel; em outra, li pista como narrativa e não como instrução, e perdi cinco minutos preciosos em interpretação creativa. O jogo deixa uma ou outra leitura ambígua de propósito — e, honestamente, funciona: a incerteza alimenta a tensão. Quando algo realmente range de design, é a proximidade entre duas pistas que se parecem demais na primeira passada; resolve na segunda, quando você já “fala” a língua da base.
Fechei a noite com a sensação rara de que o tempo foi vilão e aliado. Poucos jogos transformam relógio em textura; aqui, cada segundo ganha som, cheiro e peso. E quando os créditos chegam, o corpo ainda quer conferir um painel, fechar uma válvula, só para ter certeza de que agora sim estaria tudo sob controle. Essa vontade é o elogio.
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Sou o Leo, geralmente jogo com o nick blade95. Sou apaixonado por jogos de FPS e amo montar PC Gamer! Aqui no Steamaníacos cuido de tudo sobre Hardware, review, preview, testes e novidades para o nosso mundo gamer!